sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Dos Horários

Devia ter adivinhado. Avizinhava-se a tempestade. Acabar só, perdido... Será este o meu destino? Já não me entristece. Não quero lutar por mais nada. Nem por ninguém. Pareceste-me uma sombra, algo tão passageiro que nem a intemporalidade de um momento conseguiu reter. Nem as seiscentas mil fotografias que tirei hoje guardam alguma coisa. O que se retém de importante é no coração. Não em nenhum cartão de memória. És um resto de uma época que sabia já ter terminado, mas que quis prolongar. Uma espécie de auto-mutilação que me arrasta para esses comportamentos sociais, mais estranhos até do que minha própria existência. Sou um anti-social. Tanto ou tão pouco que nem aqueles que me são mais próximos me arrastarão. Preciso dessa noite. De uma noite de culpa, de ódio por tudo aquilo que não fiz, talvez até pelo que fiz. Preciso de me odiar, até ao extremo. Só quando a dor se tornar demasiado insuportável irei parar. Só temo como irei parar. Talvez de uma forma demasiado brusca. Só não quero magoar mais ninguém. Não quero mais sangue, bem chega todo aquele que corre neste chão. Bem chega toda a merda que fiz, num ano e meio desta cidade estúpida, que apenas me trouxe a infelicidade de perceber a fraqueza de espírito e de corpo que me consome e consumirá. Essa que não me permite ser feliz, pois também não me permite a infelicidade. Sou o homem do sorriso. Não do sorriso ternurento, nem do sorriso feliz, nem do triste..Sou simplesmente o homem que sorri como se cumprisse uma espécie de horário para ser feliz.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Das Reacções

Não consigo entender. Porque fico eu assim? Até entendo, mas custa-me a admitir. Admitir o inadmíssivel não é fácil. Não mereces que eu esteja assim. Merda! Porque me puxaste? Pensava estar imune a esses sentimentos, mas foi só até ser apanhado. Queria fugir disto, mas não há fuga possível. Enganar os outros é fácil, mas enganarmo-nos é impossível. Fingir sentimentos que não existem. Não podia ter acontecido. Aconteceu. Quando voltarei a controlar as reacções?

domingo, fevereiro 19, 2006

Da Luz

Faltou a luz. Mas o sol irrompe pela janelas de madeira, forte, ignorando a tempestade que o precedeu. Esta luz baça do fim da tarde desperta em mim memórias. "Vamos pai, que amanhã tenho aulas..." Quem dera novamente, aquela viagem monótona, por paisagens tristes e secas, terras queimadas pelo sol e pelo fogo. Ainda hoje as vejo, aqui de baixo. Lá no topo, ao fundo do horizonte, trespassadas por nuvens passageiras. Como lhes sinto a falta. A falta maior porém é a da luz. Dessa luz inigualável, que nunca mais me banhou. Perdi a esperança, admito, de a voltar a sentir. Tenho agora que ser feliz com uma luz triste e baça, que desaparece com a mesma facilidade com que apareceu. Não é o mesmo, bradarão vocês. É a minha vida, digo-vos eu, com a maior dor, aquela que só a sinceridade provoca.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Da Primavera

Começa hoje a Primavera!Pelo menos a minha. Bem sei que a chuva ameaça. Bem pode, não me assusta. Sinto-me estranho. Uma espécie de força instalou-se em mim. Impele-me a levantar-me, a esquecer o passado. A descobrir um mundo que para mim até há bem pouco era demasiado estranho. É sem dúvida a minha enzima, o meu catalisador. Não sei bem de onde vem, nem como a definir. Sei só que me invadiu, me deixa nervoso. Desconfio que seja um pólen, um qualquer componente biológico que entrou e me deixa assim. Conclusão óbvia: chegou a Primavera!

domingo, fevereiro 12, 2006

Da Incompreensão

Não percebo. Não percebo o que fiz para merecer tanta noite mal dormida, tanto sofrimento em vão. Todos me odeiam. Mas eu nunca quis magoar ninguém. Muito menos a ti. Só te queria do meu lado. Não queria mais ódios, mais mal-entendidos. Tu não me quiseste. Fartaste-te. Custou-me, mas aceitei-o. Agora não entendo como me podes odiar. Não entendo e não entendo. Merda! Não quero mais isto. Toquei o limite. Não sei onde buscar mais forças. Queria recomeçar. Não sei como. Pior, não sei porquê. Para quê prolongar isto. Expliquem-me? Para quê...

sábado, fevereiro 11, 2006

Do Recomeço

Estou sozinho. No quarto, em casa, na cidade. E estou bem. Comigo mesmo, com a minha família, com os meus amigos. Finalmente consigo sorrir. Por mim e por todos. Todos os que tanto me apoiaram neste mês infernal. Boas surpresas que tive. É bom perceber o quanto somos queridos para tanta gente, sentir a solidariedade, enfim, a amizade. Quanto me iludi quando pensei que havia valor superior ao da amizade. Não existe, felizmente! É graças a esse valor que sorrio, olhando para o recomeço!