Do mau humor

Irritado. Triste. Mal-humorado. Assim me descrevem. Aqui o confirmo. Sem paciência, acrescento eu. A pensar na fuga. Talvez por isso tanta música. Para me sentir na viagem de ida. Sem volta. Não sou assim, não gosto de o ser, mas no fundo é apenas mais uma inevitabilidade. Uma consequência óbvia do esvaziamento interior. É incrível como vou perdendo sentimentos primários: amor, ódio, medo, felicidade. Resta-me pouco ou nada. A verdade é que já fui embora.

Dos Recomeços

"Eu não quero ser a luz que já não sou". Bom início. E bom fim. O que é que se faz quando não se entende nada. Quando não me entendo, quando não te entendo e quando não entendo tudo o resto. Pior, que se faz quando o não entender não incomoda. Fica-se na ignorância? Escava-se, remexe-se até descobrir? Quando cheguei ao derivado tinha as mesmas perguntas que tenho agora. Estou a recomeçar, sou novamente caloiro, mas com uma vida por trás. Queria tanto que esta posta não acabasse, queria continuar a escrevê-la indefinidamente. Expurgar-me de pecados, fantasmas e sonhos. Sentir-me vazio, como se fosse só a carcaça que existisse. Vejo o fim do mundo à minha frente, e continuo a avançar no nevoeiro. Vou continuar a andar em frente, mesmo sem saber para onde ou porquê. Sem ser luz.