Do Vício
Admito. Viciei-me no derivado. É hoje das partes mais importantes da minha vida. O muro das lamentações, que revela a parte mais soturna do meu ser. Abandonei uma festa. Daquelas muito "in". Hoje nem a minha parte mais simpática consegue coexistir com as actuções dos participantes, esgrimindo mirabolantes teorias sobre os temas mais básicos. Talvez seja por isso esta náusea que me invadiu. Estou farto de todas essas regras. Desses falsos pressupostos em que devo basear a minha vida. De todos os códigos morais em que supostamente assenta qualquer vida que se queira considerar decente. Bebi o copo até ao fim. Fugi a correr. Vim escrever e rir de todo aquele espectáculo decadente, em que me vi incluído. Não passava de um figurante, mas mesmo assim o papel era demasiado exigente. Exigia o sorriso falso, a felicidade falsa, as pessoas falsas. Tudo demasiado podre e ensaiado, demasiado perfeito. E isso não consigo ser.